O homem entre dois extremos: o infinito e o nada
foi feito do nada
do mesmo nada que se fez o infinito.
temeu o mar, a escuridão da noite
os animais ferozes e os peçonhentos letais.
tremeu ante o trovão e a chuva de raios incandescentes.
sem compreender o mal temeu a própria sombra.
uniu forças vivendo coletivamente.
mirou o céu pontilhado de estrelas
passando a contá-las sem sequer tocá-las.
ante de tantos mistérios:
de onde veio, para onde vai,
da vida e da morte, do ser e do imprevisto,
passou a crer que nada existia,
mas ao se sentir pensante, desmistificou-se
e reconheceu: “Se penso logo existo.”
descobriu a dualidade entre opostos:
do grande ao pequeno
do forte ao fraco
da dor profunda ao sublime orgasmo
da beleza das cores a palidez do deserto
das flores e dos espinhos que as ampara,
do amor que unifica ao ódio que separa.
Diante de cenários inexplicáveis
a morte desejando vida e vidas desejando a morte.
germes, vermes, bactérias, e opróbrios
infestam a carne, o pensamento, e a alma.
o microcosmo a destruir o macrocosmo
o homem galga a estrela mas não esmaga o micróbio.
travam-se a batalhas e avança a ciência
vacinas extraídas do veneno
vida em tubos de ensaio
inseminação artificial
transplantes de coração
quimioterapias
emancipação feminina
a luta entre o bem e o mal.
encurta distâncias e diminui o tempo
pisa a lua que antes só pousava em sonhos
Apaixonado pela própria inteligência
agiganta-se com o poderio bélico
destrói cidades com cogumelos radioativos
vangloria-se, divide, escraviza e se ufana!
que dizima milhões de seres
despoja-se do semideus e veste-se de insignificância
está novamente entre a estrela e o germe.
mas, vencido pela bactéria, rasteja pequeno. Como um verme.
(Itabuna-Bahia FAFI/ 1971)
Um comentário:
Jay,
O homem, quando quer, deixa de enxergar as estrelas, para viver na escuridão, transformando-se em micróbios.
Zefa Faxineira (amiga de Zé Pensador)
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