sexta-feira, 26 de setembro de 2014

CLONANDO MEU PAI

        Brinquei de Deus, e um homem eu criei:
Forte, valente, intrépido, audaz.
Não um Adonis nem tão pouco um rei
Mas nele havia de algo, muito mais. 

Não tinha a imensa força de Sansão,
Nem de Davi vencendo os Filisteus
Teria sim a garra de um  leão
Ao defender a casa e os filhos seus

Não faria  em honra um só monumento.
Não seria  rei ou grande imperador,
Ergueria, sim, o mais nobre intento:
- Um lar honrado onde reinasse o amor.

Em seu peito não teria medalha,
Nem distintivo sobre o coração.
Pois a justiça nesse mundo falha,
Não premiando um grande cidadão.

Olhem suas mãos - da incessante lida,
Contem os calos, e, assim verão,
Medalhas e troféus, que a própria vida,
Como prêmio, bordou em cada mão.

Não teria fama e não teria riqueza.
Colheria os frutos do intenso labor
Ao caminhar  diriam com certeza:
- Eis que passa na rua um vencedor.

Não seria arrogante, nem pretensioso,
Forte e seguro em tudo o que fizesse
Bom companheiro e amigo generoso.
- “Servir” seria a mais completa prece!

E se a dor, esta cruel inimiga,
Por  vezes, lhe ferisse o coração,
Blasfemaria o pesar que lhe castiga,
Sem perder a fé assumindo a razão.

Amaria os filhos mais que a própria vida
E a esposa - companheira amada,
Reconhecendo que a mulher querida,
Lutou com ele igual, nessa jornada.

Ninaria os filhos numa rede branca
Cantando valsas à luz de um candeeiro
Aconchegando cada um em sua cama...
Repelindo insetos do mosquiteiro.

Faria brinquedos, casas pequeninas,
Carrosséis e cavalinhos de pau.
- Maior fogueira nas noites juninas!
- Melhor festa nas noites de Natal!

Assim, brinquei de Deus literalmente,
-Grande surpresa que de mim não sai!
Clonada estava, ali na minha frente...
-A essência viva, de você, meu pai.
   Jailda Galvão Aires   (Rio, 11/08/2008)






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